Olá amigos, gostaria de falar um pouco para vocês sobre o
TDAH, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, um dos diagnósticos
mais erroneamente atribuídos a crianças "problema". Tenho tido a
oportunidade de observar que chegam muitas crianças na clínica, a maioria
encaminhada pela escola, já com o rótulo de hiperativa, tanto dado pela mãe
quanto pelas professoras. Mas se a criança não obedece, tem um comportamento
bastante ativo, agressivo e inconsequente, como pode isto não ser
hiperatividade?
É o que muitas mães e educadores pensam, mas tenhamos em
mente que o diagnóstico de TDAH é muitas vezes complexo, requerendo
interconsultas e avaliações com vários profissionais pois nem sempre o
Psicólogo sozinho é capaz de dar um diagnóstico preciso, sendo em alguns casos
a intervenção médica necessária para fazer exames complementares.
Grande parte dos casos que avaliei se mostrava não TDAH, mas
outros problemas relacionados a criança e aos pais. Pude constatar que sempre
havia alguma deficiência nas relações familiares; por vezes eram fragmentadas,
pais separados que ficavam jogando a criança um para o outro sem assumi-la por
completo levando a sentimentos de rejeição e dificuldade em estabelecer um
referencial para si; netos criados por avós que não sabiam dar limites a essas
crianças, sendo permissivos e passivos; filhos de pais com histórico de brigas
excessivas ou agressões, alcoolismo; pais ausentes. Todas essas configurações
familiares citadas influenciavam no comportamento da criança de modo que ela
passa a agir em resposta ao que vivencia no núcleo familiar, manifestando
comportamentos indesejáveis na maioria das vezes.
Mas e o tal do TDAH?
Comportamento impulsivo, dificuldade em
terminar alguma atividade, pular de uma atividade para outra num curto espaço
de tempo, dificuldade em atender o que lhe é solicitado, são facilmente
distraídas por qualquer estímulo, são alguns dos comportamentos característicos
de TDAH, mas como foi dito anteriormente é necessária avaliação de um
profissional de modo a confirmar o diagnóstico.
Tem cura esse negócio?
Quando falamos de desordens psicológicas é complicado falar
em cura. Muitas são as causas atribuídas ao TDAH, mas existe um consenso de que
o componente orgânico é preponderante, Ximenes (2008) afirma algumas hipóteses:
Acredita-se que o desequilíbrio neuroquímico nos sistemas neurotransmissores da
noradrenalina e da dopamina levaria ao TDAH por baixa produção dessas
substâncias ou por sua subutilização.
Ou a disfunção do
lobo frontal, responsável pela atenção, controle do impulso, organização e
atividade continua dirigida ao objetivo, ocorreria por uma perturbação dos
processos inibitórios do córtex e por
hipoperfusão do córtex frontal.
Existe uma associação do TDAH com hipóxia perinatal e
neonatal, traumas obstétricos, rubéola intra-uterina, encefalite, entre outros.
Os fatores que interferem no desenvolvimento e curso do
transtorno são o estilo de criação, a personalidade dos pais e fatores
sócio-emocionais. Perdas e separações precoces também são apontadas.
O tratamento é feito com psicofármacos e psicoterapia
infantil, geralmente se estendendo até a adolescência que é quando o paciente
aprende melhor a lidar com sua impulsividade e com a realização de atividades
frente a vários estímulos. Devemos ter em mente também que a participação da
família é fundamental nesse processo para um aproveitamento melhor do
tratamento, para que a família entenda que a criança não é assim porque ela
quer, mas porque sofre de TDAH e não consegue controlar seus impulsos.
Mas e se meu filho não tem TDAH? Isso fica para outro artigo,
onde discutiremos a ausência de limites na criação dos filhos e a falência da
função paterna.
Continuem enviando
suas dúvidas para o e-mail: leonardobozzano@hotmail.com
Fontes:
CID -10 - Classificação dos transtornos mentais e de comportamento da CID 10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas - Organização Mundial de Saúde, trad. Dorgival Caetano, Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
DSM IV- Critérios Diagnósticos do DSM-IV, 4a ed, Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
Vídeo game sendo utilizado para trabalhar crianças com TDAH:
http://agencia.fapesp.br/17888
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