sábado, 26 de outubro de 2019

O DESASTRE DO EDIFÍCIO ANDREA E A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA

No dia 15 de Outubro de 2019 ocorreu o desabamento do Edifício Andrea aqui em Fortaleza, uma tragédia sem precedentes que mobilizou não apenas as autoridades mas toda comunidade para ajudar no resgate das vitimas. Queria tratar nesse texto de como eventos dessa natureza afetam as pessoas e como a psicologia pode intervir para dar o suporte necessário.



Primeiramente é importante delimitar o que seria uma situação de desastre. Catástrofes acontecem todos os dias, em todas as partes, uma vez que quanto mais complexa é a estrutura que vivemos mais ficamos a merce de eventos dessa natureza, seja por conta do que nós mesmos construímos e criamos, seja obra da natureza. O desastre é uma situação maior que um acidente e acaba mobilizando muito mais gente e seguimentos da sociedade. Muitos grupos e instituições acabam respondendo de maneira rápida a situação de desastre, além disso há uma perda relativa da autonomia diária no momento do desastre, naquela comunidade, naquele local, algo que altera a rotina das pessoas por um período e impede muitas vezes inclusive o ir e vir. No desastre o que é privado torna-se público e como no caso do desabamento do edifício Andrea, a vida daquelas pessoas e toda sua história passou a ser de interesse público, assim como se tornou público o temor causado pelo temor que a tragédia pudesse, de alguma forma, se replicar em outro local, em outro contexto. Tanto que a defesa civil de Fortaleza recebeu um número recorde de denúncias para vistoria de edificações. Por fim, no desastre é estabelecido um plano de ação através das autoridades competentes para lidar com o evento, da forma mais ágil e eficiente o quanto for possível.


No âmbito de qualquer desastre ocorrem perdas e é preciso lidar com elas, visto que não apenas as vítimas são afetadas, mas a comunidade como um todo. Tragédias como inundações, deslizamentos de terra, desabamentos, incêndios de grandes proporções, geram uma resposta rápida da comunidade no sentido de fornecer amparo e suporte as vítimas, num primeiro momento sendo algo mais de suprir necessidades básicas como agasalhos, comida, água remédio, abrigo. Depois, pensamos nas questões médicas, psicológicas, sociais e como essa intervenção pode acontecer. Em geral sempre temos profissionais voluntários dispostos a colaborar nesse processo, numa demonstração humanitária de  empatia e auxílio ao próximo. Quando se prensa numa intervenção da psicologia em situações de emergência e desastres é preciso avaliar alguns pontos importantes: o objetivo dessa intervenção, a duração dessa intervenção, a relevância e o impacto. O que buscamos com essa intervenção? No caso do edifício Andrea era fornecer apoio psicológico as vítimas e outras pessoas afetadas pela tragédia. Moradores das proximidades, vizinhos, transeuntes e inclusive profissionais que trabalharam no resgate ou contribuíram de alguma forma acabam sendo impactados psicologicamente pelo evento.

Os bombeiros, por exemplo, que trabalham mais diretamente com o resgate em si tem uma expectativa muito grande de resgatar as vitimas com vida, embora na avaliação momento a momento da situação percebam que essas chances vão reduzindo, principalmente com a passagem do tempo. No caso do edifício Andrea foram toneladas de escombros que mesmo com os aparatos adequados levam tempo para serem removidos. É um trabalho lento, que causa um enorme desgaste físico e psicológico a esses profissionais. Não é ao acaso que existe um número elevado de suicídio e tentativas de suicídio dentro da corporação, visto que são profissionais que lidam diretamente com a vida de outras pessoas, que se empenham ao máximo para salvar vidas, o que nem sempre é possível, e muitas vezes a sensação de falha por não resgatar uma vítima com vida pode se transformar em culpa, frustração e dependendo da estrutura psicológica e emocional de cada indivíduo tomar uma dimensão maior, podendo chegar a uma psicopatologia.


Situações de desastre como a do edifício Andrea geram nas pessoas uma sensação grande de angústia por conta daquela mudança inesperada causada pelo evento, que modifica o cotidiano e a vida das pessoas ao redor, de alguma forma, gerando um sentimento de desamparo e medo do desconhecido, sobre o que vai ou pode acontecer. A psicologia voltada para situações emergenciais entra com a atuação de proporcionar a expressão desses sentimento e de outros que surgem. Medo, raiva, tristeza, o apoio psicológico em momento de crise não pode ser confundido com psicoterapia, aquele método que ocorre no consultório. É uma intervenção diferente, pontual, limitada no tempo e no espaço, segundo a teoria da crise. É uma escuta que facilita que o sujeito, num momento de dor, perda, tristeza, angústia, possa pensar melhor em algumas possibilidades naquele momento ao mesmo tempo que entra no movimento de se reorganizar internamente.

A relevância da intervenção da psicologia em situações de desastre vem justamente na possibilidade que gera de amparo a cada individuo que está direta ou indiretamente envolvido no evento, abrindo caminho para que ele tenha o suporte para passar pela tragédia naquele período presente e que, caso necessário, prossiga com o acompanhamento psicológico no futuro, tendo claro suas necessidades individuais. Todos que passam por algo dessa magnitude estão sujeitos a um transtorno chamado Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT). Acreditava-se que somente soldados que passavam por situações intensas em guerras e conflitos armados desenvolviam o TEPT, mas hoje sabe-se que diversos tipos de situações traumáticas podem levar o indivíduo a desenvolver um quadro de TEPT. O acompanhamento psicológico após situações como essa podem minimizar esses sintomas e dar suporte para que a pessoa se recupere mais rápido da situação traumática.

Gostaria de finalizar esse artigo parabenizando todos os profissionais e voluntários que se mobilizaram para ajudar no resgate das vítimas, para auxiliar os bombeiros no difícil trabalho de procurar sobreviventes e retirar toneladas de escombros, a profissionais de várias áreas que se engajaram para prestar qualquer tipo de auxílio nessa situação calamitosa. Em especial, gostaria de parabenizar os bombeiros. Muitos estiveram lá por dias, sem voltar pra casa, sem ver suas famílias, dando o máximo de si para tentar salvar uma vida que fosse. Precisamos mais de pessoas assim, precisamos valorizar essa humanidade para podemos melhorar como sociedade.


Referências:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832015000200287&lang=pt

American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-5. Porto Alegre: Artmed;2014.

Noal D, Vicente LN, Weintraub ACAM, Knobloch F. A atuação do psicólogo em situações de desastres: algumas considerações baseadas em experiências de intervenção. Entrelinhas [Internet]. 2013 [acesso 2013 Jul 1]; 13(62):4-5. Disponível em: http://www.crprs.org.br/upload/edicao/arquivo57.pdf 

2 comentários:

  1. Matéria bem atual no que estamos passando também agora nessa pandemia.

    As pessoas precisam de assistência psicológica e terapêutica.

    A Hipnose tem ajudado cada vez mais no enfrentamento do Luto que as pessoas vem passando com as situações atuais.

    Quem desejar saber mais pode estar falando comigo pelo Whatsapp (85) 98820-9071.

    Tenho trabalhado questões do Luto usando a hipnose e os resultados foram excelentes para se conseguir esse enfrentamento.

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