quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

MEDO DE DIRIGIR: QUANDO IR AO PSICÓLOGO?

Nos dias de hoje, dirigir é importante e faz parte do nosso cotidiano. Quando não dirigimos, na maioria das vezes estamos sob a responsabilidade de alguém que dirige e que nos transporta para nossos compromissos. Entretanto, existem aquelas pessoas que tem alguma dificuldade em pegar o voltante. Vamos falar um pouco sobre isso nesse artigo.

Dirigir parece ser algo simples e tal comum que não percebemos que muitas pessoas passam por um tormento para executar essa tarefa. Pesquisas mostram que as mulheres são as que mais sofrem com esse problema: ao mesmo tempo que são, em sua maioria, mais cuidadosas ao dirigir muitas delas passam por problemas relacionados a condução de veículos. Numa dessas pesquisas foi constatado que 45,2% dos entrevistados tinha habilitação mas não dispunha do veículo para praticar. Depois de um tempo, essas pessoas acabam se tornando dependentes de outros condutores e presenciam diversas situações no trânsito que podem minar sua confiança, causando assim um bloqueio para o ato de dirigir. 

Muitos acreditam que o medo de dirigir vem de experiências traumáticas, tais como acidentes, por exemplo, onde é comum o Transtorno de Estresse Pós Traumático (clique para ler o artigo sobre esse tema), todavia isso é uma percepção errônea, baseada no senso comum. Estudos mostram que uma apenas uma pequena porcentagem (em torno de 18%, mas a amostragem era de 93 pessoas) dessas pessoas sofreram algum tipo de acidente relacionado ao trânsito. Segundo esse estudo:

"Mais fatores relevantes para as pessoas não dirigirem foram o comodismo (15,1%), a falta de incentivo (12,9%), recebimento de críticas constantes no período da autoescola (8,6%), conduta adotada pelos instrutores (6,4%), intolerância aos próprios erros (8,6%) e outros motivos, como adoecimento e mudanças para outros locais de moradia com o trânsito diferente do de onde aprenderam a dirigir (8,6%)"¹


E além disso: 

"...a maioria das pessoas se queixou de: não ter boa noção de espaço (91,4%), ter dificuldade para estacionar (90,3%), não saber sair com o carro em uma subida (90,3%), ter dificuldade em dirigir em tráfego intenso (89,2%), não conseguir dirigir sozinhas (89,2%) e não dominar o trajeto de casa para o trabalho (83,9%). Além disso, queixas como de não saber estacionar na própria garagem (82,8%), não dirigir em rodovias (82,8%), não dominar todas as marchas (81,7%) e não conseguir fazer curvas rápidas (78,5%)"


Fica claro que existem dois fatores a serem considerados. O primeiro é o fator interpessoal, o
segundo é questão do treinamento das autoescolas. Vamos falar primeiro do curso de direção fornecido pelas autoescolas. Já ouvi pessoas comparando o treinamento de condutor ao cursinho de pré-vestibular- ele te ensina a passar na prova, no caso da autoescola, a passar pela prova do Detran. Mesmo treinando nas ruas, o condutor não sai preparado para as situações reais do cotidiano do trânsito. lembro quando tirei minha habilitação anos atrás que o instrutor me ensinou muito bem como fazer todas as manobras necessárias para obter êxito na prova prática, mas eu fui aprender como dirigir pra valer no cotidiano, nas ruas, enfrentando o movimento frenético de pedestres, ciclistas, motociclistas, coletivos, etc. Não sei se todas as autoescolas funcionam assim, mas um curso voltado não só para passar no exame do Detran mas também para ensinar de fato como dirigir poderia ajudar muito essas pessoas. Isso implicaria numa reformulação dos cursos de formação de condutores.

O fator interpessoal é outro aspecto fundamental no que diz respeito ao ato de conduzir um veículo. Primeiro a pessoa deve ter o treinamento adequado, saber o básico do funcionamento, como se executam suas manobras etc. Segundo a pessoa deve ter confiança em si. Quando essa confiança da lugar ao medo criam-se barreiras que atrapalham a pessoa a dirigir.


O MEDO DE DIRIGIR

"O medo é um mecanismo de proteção. Quando nos defrontamos com o perigo, seja ele de qualquer natureza, o corpo se arma para enfrentar "o inimigo". A partir de uma reação de luta ou fuga, o organismo ativa o sistema nervoso simpático, liberando as substâncias adrenalina e noradrenalina. Estas promovem alterações fisiológicas que viabilizam a defesa do indivíduo, como o aumento da frequência cardíaca, a constrição dos vasos da pele, a redução da atividade gastrintestinal, o aumento da taxa respiratória, o aumento da sudorese e a dilatação da pupila"²

Essa sensação de medo vai persistindo conforme a pessoa cria em seu imaginário situações catastróficas ligadas ao ato de dirigir, ou seja, imagina acidentes e afins, e para se proteger desenvolve esse comportamento de fuga/ esquiva do ato de conduzir o veículo. Algumas pessoa acreditam que o medo vai passar com esse ato de evitação, mas estão profundamente enganadas. Isso apenas vai trazer um alívio momentâneo da situação ao mesmo tempo em que mina a confiança do sujeito que se torna totalmente inseguro para tentar outras vezes. Daí pode variar de um simples medo ao pânico/ fobia total de dirigir. No estudo citado nesse artigo, veja o que as pessoas pensam/sentem sobre isso:

"...medo de errar (75,3%), medo de causar um acidente (72%) e medo de perder o controle da situação (61,3%). Além disso, 59,1% dos sujeitos disseram sentir aflição, 23,7% relataram sentir vergonha das outras pessoas e 23,7% apontaram ter vontade de desistir. A impaciência foi apontada por 20,4% das pessoas, enquanto 19,4% relataram sentir vontade de chorar, 17,2% disseram ter dificuldade de concentração e 3,2% frisaram sentir vontade de brigar.¹"

Logo, se percebe uma gama se sentimentos e pensamentos negativos relacionados ao medo de dirigir. E embora as pessoas não sejam obrigadas a serem motoristas, muitas precisam dirigir por necessidade, para se deslocar melhor dentro das cidade, visto que o transporte público em nosso país é bastante deficitário. A pessoa com fobia de dirigir pode procurar um psicólogo para lhe auxiliar a lidar com esse comportamento e aqui faço uma ressalva. Há uns anos atrás existia em minha cidade um instrutor de direção que se dizia especialista em fobia para dirigir e na sua propaganda ele dizia que iria ajudar a pessoa a superar seus medos. Esse indivíduo não possuía nenhuma formação em Psicologia ou Psiquiatria, sendo habilitado apenas como instrutor de direção. A questão é, como poderia ele ajudar uma pessoa sem entender nada do comportamento humano? Talvez ele trabalhasse apenas a questão prática da direção, estimulando a pessoa positivamente, mas dependendo da pessoa e do que ela está sentindo isso não é o suficiente. Apenas um profissional com formação em saúde mental teria conhecimento científico e técnico para diagnósticar que tipo de transtorno está relacionado e ajudar a pessoa a entender esse sintomas através de uma terapia. Então fica o alerta para esse tipo de prática, procure sempre um profissional capacitado.   

Dirigir é algo que como tudo na vida requer prática e atenção. E assim como muitas coisas, nem todos fazem excelentemente. É como tocar violão. Posso aprender a tocar violão e saber o básico e nunca ir além disso, mas existirão pessoas que podem aprender com muita facilidade e se tornarem mestres da música, ao passo que outras nunca vão tocar direito os acordes. Quanto mais treino, vontade e dedicação melhor. E para vencer os medos e as dificuldades pode ser necessária a ajuda de um profissional psicólogo. Dirija com cuidado e até o próximo artigo.


REFERÊNCIAS:
1-http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-20852013000200005&lang=pt
2-http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082011000100007&lang=pt
3-http://comportese.com/2014/03/o-medo-de-dirigir-uma-visao-analitico-comportamental/

Nenhum comentário:

Postar um comentário