segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

PSICO DÚVIDAS #3


Olá a todos, sejam muito bem vindos! Hoje vamos responder as dúvidas de alguns dos leitores do blog, vocês podem mandar essas perguntas para esse link: https://curiouscat.me/Psicologizzano que ela será respondida mantendo o anonimato. Vamos as perguntas!

Dúvida 7) Gostaria de tirar uma dúvida e saber se a psicologia poderia me ajudar. 
Tenho 37 anos e estou passando por uma fase complicada na minha vida, eu trabalho tenho minha empresa, sou casado e tenho dois filhos. Há uns 4 anos atrás tive um relacionamento fora do meu casamento que minha esposa descobriu, contudo nosso amor foi maior e por ela conseguiu reconectar nosso casamento. Hoje me tornei uma pessoa dedicada só a meu casamento reconhecendo o erro que cometi. Com isso minha esposa agora (2 meses) passou em uma seleção de emprego e está trabalhando, aí que vem todo meu problema. Estou a toda hora achando que pode acontecer a lei do retorno, que minha esposa possa me trair e daí estou passando por muita dificuldade tomando bebidas alcoólicas todos os dias, sem foco na minha empresa, fumando uma carteira de cigarro por dia, dormindo 10hs acorda do as 2hs da manhã e não dormindo mais por pensar como vai ser o outro dia dela. Enfim na verdade tenho sim total confiança nela, mas que me deixa com pé atrás são situações de homens que sei que podem dar encima enfim várias coisas que fico a todo momento fantasiando. Confesso que estou muito preocupado comigo, onde para minha esposa ela só diz que é uma frescura minha. 
Mas enfim existe alguma área na psicologia onde eu possa melhorar esse tipo de comportamento relacional?

Leonardo Martins, psicólogo: Olá, vamos tentar elaborar um pouco do que você trouxe, de forma bem superficial, uma vez que não conheço você, seu contexto, seus comportamentos. Acredito que você esteja inseguro e fantasiando uma possível traição da sua esposa porque você cometeu esse ato, tanto que no que você escreveu você fala da "Lei do Retorno", então de algum modo você tem muito medo que isso retorne para você, assim como você deve ter muito medo de perdê-la e isso é que anda tirando seu sono. Não existe uma área específica da psicologia pra ajudar você, qualquer psicólogo que você procurar poderá trabalhar com você essas questões. Não pense que a minha análise superficial vai resolver seu problema, ok? Você precisa ser avaliado pelo profissional, precisa entrar a fundo nessas questões e entender os sentimentos que estão relacionado tanto a traição que você cometeu quanto a relação atual com sua esposa.


Dúvida 8) Para quem devo ir, um psicanalista ou a um psicólogo? Ambos podem encaminhar pra um psiquiatra caso vejam a necessidade de eu tomar medicamento ? Já fui a uma vez há uma psicanalista ela comenta muito sobre Freud e é muito ligado a parte sexual ... enfim aqui em minha cidade o que posso pagar talvez seria uma psicanalista preço mais acessível, mas preciso de alguém que realmente me ajude a curar minha depressão e me diga pra eu ir a psiquiatra se for necessário.



Leonardo Martins, psicólogo: A diferença entre psicólogo e psicanalista é a seguinte: o psicólogo passa no mínimo 5 anos numa faculdade estudando o comportamento humano, estudando técnicas para tratar disfunções comportamentais, emocionais, estuda dezenas de teorias, aprende sobre os transtornos mentais, faz estágios em diferentes áreas etc. O psicanalista pode ser qualquer pessoa, pode ser um advogado, um professor, um arquiteto, um padeiro, pode ser inclusive uma pessoa sem uma profissão formal que resolve fazer o curso de psicanalista. Tem cursos de psicanalista que duram 1 ano apenas. Alguns cursos mais sérios duram um pouco mais. Logo, há aí uma grande diferença e disparidade em relação ao conhecimento técnico. Como os psicólogos estudam várias teorias e escolhem uma para ser sua vertente de trabalho, um psicólogo pode ser psicanalista, mas um psicanalista não é um psicólogo. A psicanálise se baseia nos estudos de Freud sobre o aparelho psíquico e sua teoria da sexualidade, mas vai depender muito do profissional que atende você, visto que cada psicanalista pode seguir uma linha diferente dentro da psicanálise (sim, existem diversas vertentes dentro da psicanálise, de fato a maioria dos discípulos de Freud desenvolveram suas próprias interpretações acerca da psicanálise e foram assim sendo criadas outras vertentes). Com relação ao valor, tem psicanalista que cobra muito mais caro que um psicólogo convencional, isso é muito relativo. Com relação a encaminhar, ambos os profissionais devem estar capacitados para encaminhar para um psiquiatra caso seja necessário uso de medicação no tratamento.



Dúvida 9) Não consigo esquecer uma relação que nunca superei já fazem 4 anos que terminamos e eu vou casar com outra pessoa.. Não nos falamos há anos mas eu sinto o mesmo que quando o conheci e quando voltam às memórias sofro igual anos atrás. Também sonho constantemente com ele. Por favor, queria entender o que está acontecendo comigo, queria saber como posso esquecê-lo!



Leonardo Martins, psicólogo: Claramente você não superou esse relacionamento, você está firmemente fixada nele. Mesmo depois de 4 longos anos você ainda tem sentimentos com essa intensidade, e ainda sonha com ele o que é um indício claro de como esse sentimento é forte em você. Não existe uma receita para te dizer como superar essa relação, você precisa fazer psicoterapia com um psicólogo para aprofundar o entendimento desse sentimento e dessa relação que acabou, e acima de tudo, aprender a aceitar que acabou. Você está apegada a algo do passado, é provável que hajam fantasias de reviver esse momento passado que vai e vem retornam. Por isso fazer terapia é tão importante, porque esse apego ao passado com certeza te traz sofrimento e dificuldades em lidar com sua vida presente, até mesmo porque você está em vias de casar. Aceitar é um processo difícil e doloroso, aceitar aquilo que aconteceu, aceitar o inevitável, e lidar com isso é um grande desafio. Então procure um psicólogo na sua cidade para trabalhar essas questões e boa sorte!


Dúvida 10) Olá, atendo uma mulher e ela gostaria muito que eu atendesse a filha dela também, separadamente, não como terapia familiar. Não achei nada contra isso no código de ética, porém estou na dúvida. O que você acha? O mesmo psicologo pode atender mãe e filha?


Leonardo Martins, psicólogo: Que bom ver um colega psicólogo aqui no site. Não é demérito um profissional ter dúvidas, pelo contrário, é melhor se informar, do que achar que sabe tudo e não ter a humildade de buscar ajuda com alguém mais experiente e de repente cometer erros grotescos no exercício da profissão. Dito isso, acho louvável você vir aqui perguntar. Vamos à resposta!  Realmente você não vai achar esse tipo de limitação ou restrição de atendimento no código de ética, porque era algo para ser ensinado dentro das faculdades de psicologia (e nem sempre o é). O que ocorre é que o psicólogo trabalha com a subjetividade, com a intimidade do sujeito, um material que deve ser resguardado e é sigiloso (regras sobre esse sigilo aí sim, estão no código de ética). Mas quando você atende pessoas que se conhecem esse sigilo acaba sendo comprometido, porque em algum momento essas pessoas podem falar uma da outra, coisas que uma das duas não sabem, mas você sabe enquanto terapeuta caso esteja atendendo. E isso é que pode gerar conflitos. Então se tem algo que a filha conta que não quer que a mãe saiba, mas você atendendo a mãe acaba mencionando isso sem querer, porque pode acontecer, de repente você está quebrando o sigilo da filha e pode estar comprometendo a relação das duas, causando ainda mais conflito. Dessa forma, é bem sabido entre os psicólogos que quando outro familiar solicita nosso atendimento nos encaminhamos essa demanda para outro profissional, justamente para evitar esse conflito de interesses nos atendimentos. Isso falando de psicoterapia individual. Em outras modalidades de atendimento como Terapia de Casal, Terapia Familiar, essa regra não se aplica, porque todos estão ali juntos, compartilhando sua intimidade, seus pensamentos, seus segredos. Espero ter ajudado a sanar essa dúvida. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

HOMENAGEM AOS 15 ANOS DO PRAVIDA PELA CÂMARA DE FORTALEZA





No dia 11 de dezembro de 2019 foi realizada na Câmara Municipal de Fortaleza sessão solene para homenagear os 15 anos do PRAVIDA- Programa de Apoio a Vida da Universidade Federal do Ceará-UFC, programa da qual faço parte há 4 anos. O PRAVIDA tem como objetivo atuar ativamente na prevenção de suicídio não apenas na cidade de Fortaleza, mas em toda região metropolitana e cidades do interior do Estado, através de atividades voltadas para o ensino, pesquisa e extensão. Significa dizer que além do atendimento ambulatorial gratuito, realizado no Hospital Universitário Walter Cantídio, o PRAVIDA realiza diversos cursos, capacitações e seminários, além de pesquisa onde publica trabalhos em eventos nacionais e internacionais e conta com um livro publicado em 2018 com o que há de mais moderno em relação ao estudo científico do fenômeno do suicídio.



Acima de tudo é um programa de voluntários que realiza um trabalho hercúleo com muito amor. O vereador Jorge Pinheiro tem sido uma importante parceria com o programa e foi o idealizador dessa homenagem. No presente evento não apenas o PRAVIDA foi homenageado, mas seus integrantes que tem realizado uma contribuição fundamental para o andamento e desenvolvimento de todas essas atividades. Receberam certificados em homenagem ao PRAVIDA: Fábio Gomes de Matos Sousa; Maria Ivoneide Veríssimo de Oliveira; Leonardo Viana de Vasconcelos Martins; Ana Paula de Lima e Silva; Karine Benevides; Cíntia Lima Sampaio; Sâmia Martins Cabral Ribeiro; Poliana Lemos Moreira Albuquerque; Luíza Weber Bisol. Sendo um dos homenageados, só tenho a agradecer, em primeiro lugar ao Dr. Fábio Gomes pela confiança no meu trabalho e ao vereador Jorge Pinheiro, que em nome da cidade de Fortaleza realizou esse ato de reconhecimento público a um trabalho tão essencial e tão difícil. Foi uma sensação indescritível ser homenageado publicamente por algo que eu faço com todo empenho e sem esperar qualquer tipo de retorno, é o meu chamado pessoal para contribuir com a sociedade e com a saúde mental da nossa cidade. E me enche de alegria e orgulho poder fazer parte desse programa tão belo que é o PRAVIDA. Que venham muitas outras homenagem e que mais e mais pessoas possam se beneficiar do nosso trabalho.






terça-feira, 3 de dezembro de 2019

PSICO DÚVIDAS #2


Olá a todos, sejam muito bem vindos! Hoje vamos responder as dúvidas de alguns dos leitores do blog, vocês podem mandar essas perguntas para esse link: https://curiouscat.me/Psicologizzano que ela será respondida mantendo o anonimato. Vamos as perguntas!

Dúvida 4) Olá, minha madrinha mora em outra cidade e está fazendo terapia. Meu avô está em estado terminal e convive com minha madrinha. Meu avô não quer vir morar com minha mãe, pois é outra cidade. Minha mãe manda dinheiro para minha madrinha, ajuda a pagar a cuidadora para meu avô. E ela já foi inúmeras vezes para a outra cidade afim de cuidar do meu avô.

A psicóloga da minha madrinha, tomou a iniciativa de ligar para a minha mãe dizendo que não iria permitir que meu avô fosse morar com ela, e também ameaçou minha mãe com um processo onde ela iria pagar sozinha os custos do meu avô. Porem, todo dinheiro que minha mãe envia para a minha madrinha não é utilizado com meu avô, pois a minha madrinha gasta tudo indo no motel com vários homens. A psicologa pode ligar para a minha mãe, atormentando e aborrecendo ela mesmo que minha mãe, não tenha nada haver com a terapia da minha madrinha?


Leonardo Martins, psicólogo: Bom, primeiramente, da forma como você está me relatando, essa profissional está tendo um comportamento antitético e ela mesma pode sofrer processo administrativo no Conselho Regional de Psicologia da região dela caso seja denunciada. Esse não é o papel do psicólogo. O profissional de psicologia deve zelar pelo bem estar do paciente, não deve ditar o que o paciente deve fazer, não deve interferir na vida do paciente de qualquer modo, mas sim levar o paciente a refletir sobre suas ações, dar suporte emocional, oferecer estratégias para que o paciente lide com seus conflitos. 

Segundo o código de ética do psicólogo:


II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão.



Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:


b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;




j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado; 


No seu relato essa profissional infrigiu todos esses princípios e é passiva de punição caso haja uma denúncia formal. 



Dúvida 5) Eu quero muito cursar psicologia para poder ajudar meu pai, eu vejo que ele precisa muito de um psicólogo. 

Leonardo Martins, psicólogo: Olá. Isso que você está colocando é algo corriqueiro no curso de psicologia. Muitas pessoas entram no curso para ajudar amigos, familiares ou a si mesmo. Lembro de uma colega de curso que dizia que entrou na psicologia achando que faria terapia no curso. É um engano muito comum. O objetivo do curso de psicologia é formar um psicólogo, tratar suas dificuldades e problemas pessoais é algo que é feito por fora, independente do curso. E se formar psicólogo para tratar parentes está fora de questão. O trabalho do psicólogo está norteado pelo princípio profissional da imparcialidade, do não envolvimento emocional com os pacientes. Os vínculos que estabelecemos com as pessoas, ou seja, a forma como desenvolvemos cada relação vai influenciar como a outra pessoa nos vê e nos ouve. Provavelmente você já deve ter falado coisas para seu pai mas ele não te dá ouvidos, por que os pais em geral são assim, por serem mais velhos, mais experientes, por serem uma figura de autoridade, em geral não vão ouvir os filhos, visto que é algo da relação pai-filho. O psicólogo, para que possa atender bem um paciente, não pode ter vínculos de outra natureza que não o profissional. Então, por mais que você quisesse atender seu pai, ou qualquer outra pessoa da família, não daria muito certo. Incentive seu pai a buscar um psicólogo ou você mesmo pode buscar um e ir com ele, demonstrando assim seu apoio e interesse no bem estar dele. 




Dúvida 6) Tenho muita vontade de procurar um psicólogo, mas tenho medo, vergonha, sei lá. Eu fico pensando o que ele vai pensar de mim, das coisas que eu vou dizer. Tenho medo que ele conte para alguém. O que devo fazer, me ajude?


Leonardo Martins, psicólogo: Olá, obrigado pela sua dúvida, vamos desenvolver aqui uma excelente reflexão sobre ela. É natural ficar apreensivo diante de uma pessoa que você não conhece e que você vai contar sua vida, seus problemas sua intimidade. Entretanto, neste caso, a pessoa é o psicólogo, um profissional tecnicamente qualificado para isso. Vejamos o que diz o Código de Ética do psicólogo:



"Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional."


Ou seja, o sigilo, o segredo das informações que você repassar para o psicólogo estará resguardado. Caso haja quebra desse sigilo o psicólogo poderá responder perante o conselho, dependendo da situação receber apenas uma punição ou até mesmo ser cassado e não poder mais exercer a profissão. Nós psicólogo levamos a questão do sigilo muito a sério. Tudo que você fala na sessão de terapia com um psicólogo fica lá. Então por mais que você tenha um pouco de vergonha no começo, conforme você estabelece uma relação de confiança com o psicólogo que você escolheu ir vai ficando mais fácil desabafar e falar dos seus problemas. Recebo muitos pacientes que no começo estão inseguros de falar, mas que com o tempo, eles vão ficando mais confortáveis e o processo caminha mais tranquilamente. Então escolha um profissional que você se identifique, se não gostar, troque, até achar aquele com quem você se sente mais à vontade e pode falar sem medo. 

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

MANDE SUAS PERGUNTAS E DÚVIDAS PARA MIM!


Muitos de vocês fazem diversas perguntas aqui no blog, tiram dúvidas, etc. Agora vocês podem fazer isso mais diretamente. Semanalmente eu vou estar postando as respostas dessas dúvidas aqui no blog, com o intuito de informar melhor a todos vocês. Então vocês podem enviar essas dúvidas através desse link do Curious Cat: https://curiouscat.me/Psicologizzano

Basta clicar e enviar as perguntas, dúvidas, questionamentos, pensamentos, reflexões que eu vou pegar e criar um post semanal com elas, respeitando o sigilo de quem enviou, ninguém vai ser identificado, e eu vou responde-las aqui. 


terça-feira, 19 de novembro de 2019

5 ORIENTAÇÕES PARA QUEM TEM ANSIEDADE

Olá a todos, sejam muito bem vindos! No post de hoje eu vou falar um pouco sobre ansiedade e dizer para vocês algumas orientações para que possam aplicar no seu dia-a-dia, de modo não só a reduzir a ansiedade mas como também melhorar sua qualidade de vida.


A ansiedade pode ser caracterizada como uma reação natural do organismo a um evento, seja ele real ou imaginário, no qual a pessoa se sente de algum modo ameaçada. As reações elevadas de ansiedade frente a uma situação que é ameaçadora para aquela pessoa (ex: falar em público, uma prova importante, um encontro com um paquera) acabam desencadeando um processo natural do corpo, a reação de luta ou fuga. Esse mecanismo é uma adaptação evolutiva que ajudou na preservação das espécies: quando um animal se sente ameaçado o cérebro recebe essas informações e manda comandos para o corpo que libera hormônios que fazem o coração bombear mais sangue para os músculos, os sentidos ficam mais aguçados e aquele animal decide se vai fugir ou enfrentar a ameaça. Nos seres humanos, por conta do nosso estilo de vida cansativo, muitas responsabilidade, tensão constante, esse mecanismo acaba disparando em vários momentos. É o famoso "estou nervoso". Você começa a suar frio, pois o sangue está fluindo para os músculos, então as extremidades tendem a ficar mais geladas, o coração acelera, bombeando mais sangue, o ritmo respiratório aumenta para enviar mais oxigênio para o sangue. As pupilas dilatam, uma sensação de medo vem. A intensidade e a manifestação desses sintomas podem variar, mas no geral, são suportáveis, causam um desconforto passageiro. Entretanto, se os sintomas forem muito fortes, já acontecem há algum tempo, atrapalham sua vida pessoa (trabalho, estudo, vida pessoal, familiar) então está na hora de buscar ajuda de um especialista, um psicólogo ou psiquiatra. 


Então como posso evitar que minha ansiedade chegue a esse ponto? Como posso evitar que eu desenvolva um transtorno dessa natureza? Segue abaixo 5 orientações bem simples, mas que podem fazer toda diferença. Elas servem para quem tem apenas reações ansiosas dentro do limite, bem como para pessoas que já estão diagnosticadas com o Transtorno de Ansiedade. 


1-Pratique atividade física: a atividade física regular, seja ela qual for, ajuda a regular os níveis de hormônios no nosso corpo, tanto dos que elevam a ansiedade, quanto dos que reduzem. Ao final dos exercícios o corpo está mais relaxado, cansado e hormônios do prazer são liberados.


2-Evite álcool, fumo e outras drogas: essas substâncias vão afetar os neurotransmissores de algum modo, e substâncias como o cigarro causam dependência química, o que potencializa seu consumo em pessoas que estão mais ansiosas. No caso do álcool, eu diria apenas para evitar os excessos, o que chamamos de uso abusivo (quando a pessoa está bebendo grandes quantidades num curto espaço de tempo). No caso de outras drogas, bem, elas bagunçam totalmente as reações químicas no cérebro entre os neurotransmissores, então é bom evitar todas mesmo. 


3-Resolva seus problemas: quanto mais deixamos as coisas acumulares, pior fica, mais sobrecarregados ficamos. Mas isso vai além de pagar boletos e estudar para as provas da faculdade ou terminar os relatórios do trabalho. Resolver os problemas da vida pessoal é de extrema importância. Quando você está numa situação desagradável mas não resolve, isso cria uma série de consequências psicológicas e emocionais que podem potencializar as reações de ansiedade.


4-Tenha uma rotina regrada: comer adequadamente, dormir adequadamente, são o básico para ter uma boa qualidade de vida. Ter uma rotina ajuda, não apenas a organizar seu dia, como também a reduzir a expectativas e surpresas durante o dia. Se você está devidamente organizado dificilmente você vai esquecer compromissos. Se você tem uma boa noite de sono seu corpo e seu cérebro estarão devidamente descansados. 


5-Respeite seus limites: aprenda a saber a hora de parar e reavaliar uma situação. Excesso de insistência em algumas situações pode gerar conseqüências negativas. Insistir em situações que estão lhe causando prejuízo, da mesma forma. Se algo não está como você gostaria, reavalie, procure recursos para mudança, mas evite permanecer. Um exemplo disso é trabalhar num lugar que você não gosta, que sente que te tratam mal, etc. Com o tempo a sensação ruim em relação aquilo vai aumentando, exponencialmente, até que começa a desencadear reações de ansiedade. Tal qual o exemplo do emprego ruim é estar num relacionamento ruim, seja abusivo ou tóxico. Então respeite seus limites e sempre se questione "isso é o melhor para mim nesse momento?". Permita que essa frase seja seu guia e sempre reflita em torno dela, vai te ajudar a decidir melhor.



domingo, 3 de novembro de 2019

PSICO DÚVIDAS #1

Olá, como recebo muitas dúvidas de pacientes, leigos, sobre diversos assuntos relacionados à Psicologia, vou abrir aqui um espaço para falar um pouco desses questionamentos. Então podem mandar suas perguntas, dúvidas, comentários para: https://curiouscat.me/Psicologizzano
Vamos as perguntas!


Dúvida 01) Meu pai lava muito as mãos e tem hábitos repetitivos, o que pode ser? Ele também tem um hábito horrível de cuspir muito, não dentro de casa mas na rua ou quando está no banheiro, na varanda, ele cospe quase que o tempo todo exceto quando está concentrado em algo que ele gosta de fazer. E também fica fazendo barulhos constantes com a boca, além de ser uma pessoa muito repetitiva com suas ações e meio imaturo e infantil. Esses sintomas pode significar o quê? Algum transtorno?




Leonardo Martins, psicólogo: respondendo a sua pergunta, primeiro é preciso avaliar seu pai,então ir a um psicólogo ou psiquiatra é fundamental. Esses sintomas podem sinalizar um transtorno sim, mas não necessariamente, uma vez que a pessoa pode ter sintomas de um determinado quadro mas não fechar o quadro em si. Por exemplo, uma pessoas pode exibir sintomas depressivos e não ter depressão. Assim como seu pai exibe sintomas de Transtorno Obsessivo Compulsivo, mas somente com a avaliação de um especialista seria possível determinar isso. Muitas pessoas acabam nem procurando um profissional porque acham tão "natural" seu próprio comportamento e desta forma acabam sem ter um diagnóstico, mesmo portando algum tipo de transtorno, porque se adaptam a aprendem a viver com os sintomas. 


Dúvida 02) Neste período sofro muito com ansiedade. Sempre fui uma pessoa ansiosa. Qualquer coisa que sinto, penso logo que é problema grave. Faz dias que estou com uma dor de cabeça que apareceu do nada. Estava sentado no sofá quando ela apareceu. Desde esse dia sinto pontadas, pressão no crânio, pressão nos maxilares, ela é mais recorrente no lado esquerdo e tem vezes que a dor é bem forte. O paracetamol não ajuda muito. Estou com muito medo que seja algo pior e com muita ansiedade.


Leonardo Martins, psicólogo: Questões psicológicas, mentais, podem alterar o funcionamento do nosso corpo, sim. Então quando a ansiedade atinge níveis altos, que extrapolam o que o corpo tolera, começam a surgir sinais, como por exemplo, dores de cabeça, dores musculares, alterações do apetite, do sono, etc. Algumas vezes, no caso de dores de cabeça causadas pela ansiedade, analgésicos funcionam, em outras não, pois o nível de ansiedade é tão elevado que o remédio não faz o efeito que deveria. Existem diversas práticas que ajudam no controle e no alívio do excesso de ansiedade, como horários regulares de sono, atividade física, boa alimentação, lazer. Em alguns casos é indicado buscar um psicólogo, para que ele possa avaliar como essa ansiedade se manifesta, o que a desencadeia e como a pessoa poderia lidar com isso da melhor forma.



Dúvida 03) Tenho tido diversos pensamentos obsessivos, o que posso fazer?

Leonardo Martins, psicólogo: Como saber se esses são pensamentos obsessivos? Bem, em geral pensamentos que se repetem e que geram um desconforto, tem em geral um conteúdo pouco lógico, ou seja, são pensamentos com ideias estranhas, mesmo absurdas, mas o indivíduo acaba aceitando e acreditando e elas tendem a se repetir contra a vontade da pessoa. Se isso está acontecendo com você é necessário buscar ajuda profissional, visto que pensamentos obsessivos são um sintoma, então se faz necessário uma avaliação completa do quadro da pessoa, pois outros sintomas podem estar presentes mas o indivíduo não os percebe ou não reconhece determinados comportamentos/pensamentos como sintoma de algo, somente um profissional vai poder percebe-los. Uma dica é anotar esses pensamentos tal qual eles surgem na mente, para poder mostrar ao profissional (psicólogo ou psiquiatra) e para que você mesmo possa ter mais consciência deles. 



sábado, 26 de outubro de 2019

O DESASTRE DO EDIFÍCIO ANDREA E A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA

No dia 15 de Outubro de 2019 ocorreu o desabamento do Edifício Andrea aqui em Fortaleza, uma tragédia sem precedentes que mobilizou não apenas as autoridades mas toda comunidade para ajudar no resgate das vitimas. Queria tratar nesse texto de como eventos dessa natureza afetam as pessoas e como a psicologia pode intervir para dar o suporte necessário.



Primeiramente é importante delimitar o que seria uma situação de desastre. Catástrofes acontecem todos os dias, em todas as partes, uma vez que quanto mais complexa é a estrutura que vivemos mais ficamos a merce de eventos dessa natureza, seja por conta do que nós mesmos construímos e criamos, seja obra da natureza. O desastre é uma situação maior que um acidente e acaba mobilizando muito mais gente e seguimentos da sociedade. Muitos grupos e instituições acabam respondendo de maneira rápida a situação de desastre, além disso há uma perda relativa da autonomia diária no momento do desastre, naquela comunidade, naquele local, algo que altera a rotina das pessoas por um período e impede muitas vezes inclusive o ir e vir. No desastre o que é privado torna-se público e como no caso do desabamento do edifício Andrea, a vida daquelas pessoas e toda sua história passou a ser de interesse público, assim como se tornou público o temor causado pelo temor que a tragédia pudesse, de alguma forma, se replicar em outro local, em outro contexto. Tanto que a defesa civil de Fortaleza recebeu um número recorde de denúncias para vistoria de edificações. Por fim, no desastre é estabelecido um plano de ação através das autoridades competentes para lidar com o evento, da forma mais ágil e eficiente o quanto for possível.


No âmbito de qualquer desastre ocorrem perdas e é preciso lidar com elas, visto que não apenas as vítimas são afetadas, mas a comunidade como um todo. Tragédias como inundações, deslizamentos de terra, desabamentos, incêndios de grandes proporções, geram uma resposta rápida da comunidade no sentido de fornecer amparo e suporte as vítimas, num primeiro momento sendo algo mais de suprir necessidades básicas como agasalhos, comida, água remédio, abrigo. Depois, pensamos nas questões médicas, psicológicas, sociais e como essa intervenção pode acontecer. Em geral sempre temos profissionais voluntários dispostos a colaborar nesse processo, numa demonstração humanitária de  empatia e auxílio ao próximo. Quando se prensa numa intervenção da psicologia em situações de emergência e desastres é preciso avaliar alguns pontos importantes: o objetivo dessa intervenção, a duração dessa intervenção, a relevância e o impacto. O que buscamos com essa intervenção? No caso do edifício Andrea era fornecer apoio psicológico as vítimas e outras pessoas afetadas pela tragédia. Moradores das proximidades, vizinhos, transeuntes e inclusive profissionais que trabalharam no resgate ou contribuíram de alguma forma acabam sendo impactados psicologicamente pelo evento.

Os bombeiros, por exemplo, que trabalham mais diretamente com o resgate em si tem uma expectativa muito grande de resgatar as vitimas com vida, embora na avaliação momento a momento da situação percebam que essas chances vão reduzindo, principalmente com a passagem do tempo. No caso do edifício Andrea foram toneladas de escombros que mesmo com os aparatos adequados levam tempo para serem removidos. É um trabalho lento, que causa um enorme desgaste físico e psicológico a esses profissionais. Não é ao acaso que existe um número elevado de suicídio e tentativas de suicídio dentro da corporação, visto que são profissionais que lidam diretamente com a vida de outras pessoas, que se empenham ao máximo para salvar vidas, o que nem sempre é possível, e muitas vezes a sensação de falha por não resgatar uma vítima com vida pode se transformar em culpa, frustração e dependendo da estrutura psicológica e emocional de cada indivíduo tomar uma dimensão maior, podendo chegar a uma psicopatologia.


Situações de desastre como a do edifício Andrea geram nas pessoas uma sensação grande de angústia por conta daquela mudança inesperada causada pelo evento, que modifica o cotidiano e a vida das pessoas ao redor, de alguma forma, gerando um sentimento de desamparo e medo do desconhecido, sobre o que vai ou pode acontecer. A psicologia voltada para situações emergenciais entra com a atuação de proporcionar a expressão desses sentimento e de outros que surgem. Medo, raiva, tristeza, o apoio psicológico em momento de crise não pode ser confundido com psicoterapia, aquele método que ocorre no consultório. É uma intervenção diferente, pontual, limitada no tempo e no espaço, segundo a teoria da crise. É uma escuta que facilita que o sujeito, num momento de dor, perda, tristeza, angústia, possa pensar melhor em algumas possibilidades naquele momento ao mesmo tempo que entra no movimento de se reorganizar internamente.

A relevância da intervenção da psicologia em situações de desastre vem justamente na possibilidade que gera de amparo a cada individuo que está direta ou indiretamente envolvido no evento, abrindo caminho para que ele tenha o suporte para passar pela tragédia naquele período presente e que, caso necessário, prossiga com o acompanhamento psicológico no futuro, tendo claro suas necessidades individuais. Todos que passam por algo dessa magnitude estão sujeitos a um transtorno chamado Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT). Acreditava-se que somente soldados que passavam por situações intensas em guerras e conflitos armados desenvolviam o TEPT, mas hoje sabe-se que diversos tipos de situações traumáticas podem levar o indivíduo a desenvolver um quadro de TEPT. O acompanhamento psicológico após situações como essa podem minimizar esses sintomas e dar suporte para que a pessoa se recupere mais rápido da situação traumática.

Gostaria de finalizar esse artigo parabenizando todos os profissionais e voluntários que se mobilizaram para ajudar no resgate das vítimas, para auxiliar os bombeiros no difícil trabalho de procurar sobreviventes e retirar toneladas de escombros, a profissionais de várias áreas que se engajaram para prestar qualquer tipo de auxílio nessa situação calamitosa. Em especial, gostaria de parabenizar os bombeiros. Muitos estiveram lá por dias, sem voltar pra casa, sem ver suas famílias, dando o máximo de si para tentar salvar uma vida que fosse. Precisamos mais de pessoas assim, precisamos valorizar essa humanidade para podemos melhorar como sociedade.


Referências:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832015000200287&lang=pt

American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-5. Porto Alegre: Artmed;2014.

Noal D, Vicente LN, Weintraub ACAM, Knobloch F. A atuação do psicólogo em situações de desastres: algumas considerações baseadas em experiências de intervenção. Entrelinhas [Internet]. 2013 [acesso 2013 Jul 1]; 13(62):4-5. Disponível em: http://www.crprs.org.br/upload/edicao/arquivo57.pdf